1-A FORÇA DA
PALAVRA NA LITERATURA
Ultimamente a idéia de
escrever sobre educação literária tem sido recorrente. Sempre que leio uma obra
poética ou ficcional cujo jogo expressivo com a linguagem me leva a pensar
sobre a vida, a lembrar de fatos vividos ou somente me faz sentir um profundo
prazer em apreciá-la, reflito, não sem uma grata alegria, que isso somente foi
possível por causa da Literatura.
Esse pensamento
metaliterário tornou-se fortemente consciente quando li o romance A Última Quimera, da premiada escritora
cearense Ana Miranda, livro presenteado pela própria, quando esteve em Caxias,
para participar do encontro do PROLER, em 2008. Eis o trecho, lido mais de uma
vez, que comprovou o quanto pode o efeito estético da linguagem literária: “Subo
os degraus da entrada, atrás de Esther. Há uma vassoura encostada num canto. Uma
poeira dourada flutua dentro da casa, iluminada pelos raios de sol matinal que
entram pela janela”[1].
Por que uma descrição tão
simples teve tamanha repercussão na minha condição de leitora a ponto de
suscitar a escritura desse texto? É que a cena me reportou a um dado momento da
minha infância, com minha mãe varrendo e provocando a mesma imagem, maravilhosa,
impressionante, porém, indescritível, pelo menos para mim que não sou poeta.
Guardada na memória, a cena me foi resgatada pela força da palavra organizada
de uma maneira tal que a comunicabilidade foi instantânea, despertando especial
significado. De uma visão fragmentada, vaga, até pela distância do tempo, esse
fato passou a uma dimensão integrada ao meu mundo vivido, numa teia de relações
familiares, fortemente marcadas pela presença materna na minha vida toda.